Colírios Lubrificantes: são mesmo todos iguais ?

Colírios Lubrificantes são iguais?

E soro fisiológico, funciona como lubrificante ocular? Água boricada, pode pingar no olho, lubrifica? E aqueles colírios adstringentes, com vasoconstrictores como a nafazolina, ajuda na lubrificação da superfície ocular?  

Soro fisiológico, agua boricada e moura brasil não são lubrificantes oculares

A resposta negativa para todas as perguntas acima é conversa frequente em nossos atendimentos do consultório.

Mas, afinal, o que são os colírios considerados lubrificantes oculares?

Olho personagem segurando um colírio

Os colírios lubrificantes são soluções oftalmológicas que substituem a lágrima. São usados para aliviar sintomas relacionados ao olho seco, proporcionando hidratação e lubrificação à superfície ocular.

Muitos pacientes julgam, erroneamente, que os colírios lubrificantes são substâncias inertes, “como água” e que podem ser usados de forma indiscriminada. Na verdade, esses compostos são formados por diferentes componentes que formam uma película protetora sobre o olho e ajudam a reduzir a evaporação da lágrima natural, melhorando o conforto visual e prevenindo microlesões corneanas.

O Colírio Ideal

O lubrificante ideal deve conter algumas propriedades importantes para maximizar a sua eficácia. É necessária uma boa capacidade de hidratação e lubrificação para reduzir a secura ocular e o atrito palpebral do piscar, se espalhando de forma uniforme na superfície. Além disso é preciso um pH e viscosidade adequados de modo a fornecer conforto ao instilar da gota, mas sem causar embaçamento visual. Quanto maior a aderência da substância melhor, pois maior será o tempo de retenção do colírio na superfície ocular e mais duradouros os seus efeitos.  E para finalizar, o lubrificante ocular não pode ter uma composição tóxica, não pode causar danos à superfície ocular.

Grafico sobre as propriedades ideias do colirio lubrificante ideial.

Apesar de não exigirem receitas médicas para a sua compra, esses colírios devem ser vistos como medicamentos e variam significativamente quanto às suas propriedades, sua composição, mecanismo ação, e presença ou ausência de conservantes.

De uma forma geral esses colírios têm na sua formulação 3 ou 4 compostos principais: 

– Água;

 – Um ou mais polissacarídeos, que conferem viscosidade ao lubrificante e são variáveis de acordo com cada fabricante. Exemplos: carboximetilcelulose, hidroxipropilmetilcelulose, hialuronato de sódio, trealose, HPguar

 – Um polímero sintético, ainda mais viscoso, presente principalmente em lubrificantes na forma de géis. Exemplos: povidona, carbômero

 – Conservantes para evitar contaminação.

Por que os Conservantes? Quais os seus efeitos sobre a superfície ocular?

Os colírios com conservantes são ainda amplamente utilizados, pois os conservantes atuam como agentes que evitam a contaminação do produto após a abertura. Isso garante que ele possa ser usado por um período mais longo, tornando-o prático e acessível.

Os conservantes, em geral, se dissolvem no filme lacrimal gerando uma maior toxicidade aos tecidos da superfície ocular, especialmente à córnea e a conjuntiva. Pacientes com a doença do olho seco, possuem um filme lacrimal reduzido ou de má qualidade, aumentando ainda mais a concentração desses compostos e causando maiores danos.

Os conservantes podem ter ação química como no caso do Cloreto de Benzalcônio (BAK – o mais comumente ainda utilizado), o Polyquad ou a Cetrimida ou podem ter seu mecanismo de ação por sistemas oxidativos como no caso do Perborato de sódio, Purite, entre outros.

Diversos estudos científicos já provaram os efeitos deletérios dessas substâncias à superfície ocular. Esses conservantes estão associados a efeitos detergentes com perda da estabilidade do filme lacrimal, ocasionando diversos mecanismos de dano celular como ruptura da membrana basal das células do epitélio corneano com consequente aumento da permeabilidade celular e apoptose, que a morte da célula.  Reações alérgicas também já foram amplamente documentadas.

Dessa forma, esses colírios com conservantes, especialmente se usados em excesso, podem causar efeitos colaterais em olhos mais sensíveis, como irritação, ardência ou vermelhidão, devido sua toxicidade. Pessoas que necessitam de aplicações frequentes ou que já apresentam condições como olho seco severo devem ter cuidado ao optar por essa versão e o seu uso não deve exceder 3 a 4 gotas ao dia.

Por outro lado, atualmente, com o avanço das tecnologias, além de colírios em monodose na apresentação de flaconetes, dispomos no mercado de uma série de colírios lubrificantes oculares sem conservantes. Existem diferentes sistemas que garantem a integridade do conteúdo interno no frasco do colírio, deixando-o livre de contaminação externa. Os frascos desses dos colírios podem dispor de sistema de filtro, como no sistema ABAK; sistema valvular como no sistema COMOD; válvulas com membranas de silicone como no sistema Novelia.

Colirios sem conservantes que contam com diferentes sistemas de frascos

Quais as indicações dos colírios lubrificantes?

Também chamados de lágrimas artificiais, esses colírios são usados para o tratamento da Doença do Olho Seco, seja na forma evaporativa ou por deficiência aquosa. Outras indicações incluem condições relacionadas a ambientes muito secos ou à instabilidade do filme lacrimal, como fadiga ocular, uso de telas, pós-operatórios e uso prolongado de lentes de contato. Essas medicações desempenham papel adjuvante no tratamento de diferentes patologias da superfície ocular, como no caso das alergias oculares e conjuntivites, associados ou não a outras classes de medicamentos.

No uso conjunto com as lentes de contato, rígidas ou gelatinosas, os lubrificantes oculares atuam de modo a promover uma relação harmoniosa entre a lente e a superfície ocular, reestabelecendo a homeostase dessa superfície e do filme lacrimal. Os colírios devem ser sempre usados sem conservantes e estão indicados nos usuários de lentes de contato que referem desconforto ocular ao final do dia ou que usam telas por mais de 6hs/dia. Os pacientes devem ser orientados a pingarem 1 gota antes da colocação da lente no olho, e ao longo do dia, sempre que necessário, de modo a tornam a superfície ocular um ambiente mais neutro, melhorando o desconforto e a acuidade visual.

Apesar de terem maior tempo de permanência no olho, lubrificantes com alta viscosidade deve ser evitados com as lentes de contato, pois causam embaçamento visual e podem se depositar no material da lente de contato reduzindo a sua vida útil. Nesses pacientes, usuários de lentes, os estudos mostram que a Carboximetilcelulose e o Hialuronato de sódio tem melhores resultados devendo sempre serem utilizados em sua forma pura, sem conservantes.

tabela indicação dos lubrificantes oculares

Principais Polissacarídeos dos Colírios Lubrificantes:

Carboximetilcelulose sódica (CMC)
É um dos polímeros mais utilizados em colírios lubrificantes devido à sua capacidade de formar uma película estável sobre a superfície ocular, proporcionando alívio duradouro para a secura ocular.

Hidroxipropilmetilcelulose (HPMC)
Semelhante à CMC, a HPMC é eficaz na lubrificação ocular e é frequentemente utilizada em formulações oftálmicas, especialmente para usuários de lentes de contato.

Carmelose sódica
É um polímero derivado da celulose que oferece propriedades lubrificantes eficazes, sendo utilizado em diversos colírios para o tratamento da síndrome do olho seco.

Ácido hialurônico (HA)
Embora não seja um polissacarídeo tradicional, o HA é um glicosaminoglicano natural que possui propriedades hidratantes excepcionais e é amplamente empregado em colírios para promover a lubrificação ocular.

Os lubrificantes oculares NÃO são todos iguais.

Como vimos, as lágrimas artificiais representam uma alternativa segura e eficaz no alívio dos sintomas relacionados à síndrome do olho seco e à irritação ocular. É fundamental atentar-se ao prazo de validade do produto, uma vez que o uso de colírios vencidos pode comprometer a eficácia do tratamento e até representar riscos à saúde ocular.

Diante da ampla variedade de opções disponíveis no mercado, torna-se imprescindível a orientação de um oftalmologista para a escolha do colírio mais adequado. A seleção do princípio ativo ideal depende diretamente de um diagnóstico preciso, considerando as necessidades específicas de cada paciente. Dessa forma, o acompanhamento profissional não apenas assegura a eficácia terapêutica, como também previne complicações decorrentes do uso inadequado desses medicamentos. O uso consciente e orientado de colírios lubrificantes é essencial para preservar a saúde ocular e promover qualidade de vida.

Agende sua consulta na Olharis e receba a orientação correta para usar o lubrificante ocular ideal para você. Estamos prontos para te ajudar a enxergar com mais conforto e qualidade!

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Dra. Carolina Daltro

Dra. Carolina é diretora médica da Olharis e titulada Especialista em Oftalmologia pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia

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