A blefarite é uma inflamação crônica das pálpebras, especialmente comum e muitas vezes negligenciada. Ela pode causar sintomas desconfortáveis e, quando não tratada corretamente, está relacionada a condições como olho seco, hordéolos (terçol), calázios e até alterações na qualidade da visão.

Quais os tipos de blefarite?
A classificação da blefarite é baseada na sua localização em relação à linha cinzenta da pálpebra (linha d´água).
▸ Blefarite Anterior
A inflamação acomete a parte externa da pálpebra, a frente da linha cinzenta, envolvendo os cílios com colaretes e crostas.
Pode ter três origens principais:
- Estafilocócica: causada por uma reação às bactérias que habitam naturalmente a região dos cílios.
- Seborreica: associada a alterações na produção sebácea, geralmente ligada à dermatite seborreica.
- Por Demodex: provocada pela presença aumentada do ácaro Demodex folliculorum, que vive naturalmente na pele, mas pode causar inflamação quando se prolifera em excesso.

▸ Blefarite Posterior (ou Meibomite)
É a inflamação da parte interna da pálpebra, atrás da linha cinzenta, onde estão localizadas as glândulas de Meibômio (produtoras da porção oleosa da lágrima). Quando essas glândulas não funcionam adequadamente, sua secreção pode se tornar mais espessa ou escassa, favorecendo a inflamação e contribuindo diretamente para o olho seco evaporativo.

▸ Blefarite Mista
Quando tanto a parte anterior quanto a posterior das pálpebras estão comprometidas.

Quais são os sintomas da blefarite?
Os sintomas podem variar de pessoa para pessoa. Algumas pessoas apresentam queixas intensas, enquanto outras quase não percebem sinais. Os sintomas de blefarite se confundem com os sintomas de olho seco. Os mais comuns são:
- Coceira
- Vermelhidão nas pálpebras
- Perda de cílios
- Lacrimejamento excessivo
- Cílios grudados ao acordar
- Formação de crostas ou escamas na base dos cílios
- Olhos secos ou visão borrada
- Presença frequente de hordéolos (terçol) ou calázios
- Sensação de corpo estranho
Qual a relação entre blefarite posterior (meibomite) e olho seco?
Um dos principais mecanismos por trás da blefarite posterior é a disfunção das glândulas de Meibômio (DGM).
As glândulas de Meibômio produzem a camada lipídica da lágrima, responsável por evitar que a lágrima evapore rapidamente. Quando essas glândulas estão inflamadas ou obstruídas, a produção dessa gordura é prejudicada (disfunção das glândulas de meibômio), levando à instabilidade do filme lacrimal e ao surgimento do olho seco.
A DGM é hoje reconhecida como uma das principais causas de olho seco no mundo, e está diretamente ligada à blefarite posterior ou blefarite mista.
Quais os tipos de DGM?
A DGM pode ser classificada de acordo com o tipo de alteração presente na secreção das glândulas e na sua capacidade de liberação. Essa classificação ajuda a entender o grau da disfunção e a escolher o melhor tratamento. Os principais tipos são:
▸ Hipo-secretora (baixa produção ou obstrução da glândula)
Quando há baixa produção de gordura, as glândulas de Meibômio liberam pouca ou nenhuma secreção lipídica, como acontece naturalmente com o envelhecimento, após cirurgias oculares, com o uso de certos medicamentos (como a isotretinoína) ou ainda devido à atrofia progressiva das glândulas.
Quando há obstrução, as glândulas continuam produzindo a secreção, porém de má qualidade, com a consistência mais espessa, dificultando a sua saída e provocando a obstrução da glândula. Esse bloqueio leva ao acúmulo de conteúdo oleoso, favorecendo inflamação, inchaço das pálpebras e o surgimento de episódios recorrentes de hordéolos, calázios e sintomas de olho seco.

▸ Hipersecretora
Menos comum. Nesse tipo, as glândulas produzem uma quantidade exagerada de secreção lipídica, geralmente de má qualidade, o que também desestabiliza o filme lacrimal e causa sintomas semelhantes aos demais tipos.

Causas de blefarite posterior (disfunção das glândulas de meibômio):
A blefarite posterior pode afetar qualquer pessoa, em qualquer idade, mas é mais comum com o passar dos anos. Diversos fatores podem contribuir para o surgimento e piora da disfunção, como:
- Alterações hormonais (menopausa, deficiência androgênica)
- Doenças dermatológicas: dermatite seborreica, rosácea
- Uso excessivo de maquiagem ou limpeza inadequada das pálpebras
- Uso prolongado de dispositivos eletrônicos (reduz o número de piscadas e prejudica a liberação da secreção meibomiana)
- Estresse
- Má alimentação (rica em gordura saturada e pobre em ômega 3)
- Uso excessivo de lentes de contato
- Cirurgias oculares prévias
- Uso de extensão de cílios (além de aumentar o acúmulo de bactérias e ácaros, modificam a dinâmica do piscar)

Blefarite tem cura?
A blefarite é uma condição crônica, o que significa que não tem cura definitiva, mas tem tratamento e controle. Com o manejo adequado, é possível reduzir drasticamente os sintomas, prevenir complicações e melhorar a qualidade de vida ocular do paciente.
Como é feito o tratamento da blefarite?
O tratamento é individualizado, mas alguns pilares são essenciais:
É o principal cuidado a longo prazo. Envolve:
- Aquecimento das pálpebras (com compressas mornas) para liquefazer as secreções

- Massagem palpebral para estimular a drenagem das glândulas

- Limpeza com produtos específicos para a região dos cílios (evite usar xampus comuns ou produtos irritantes). Produtos com óleo de melaleuca são indicados para casos com infestação por ácaros.

- Colírios lubrificantes
Indicados especialmente nos casos associados ao olho seco. Os sem conservantes são os mais seguros para uso frequente.

- Suplementação com ômega 3
Ajuda a regular a inflamação e melhora a qualidade da secreção das glândulas. Pode ser obtido na alimentação ou por suplementação em cápsulas, sempre com orientação médica.

- Antibióticos e anti-inflamatórios
Podem ser prescritos localmente (pomadas ou colírios) ou por via oral, dependendo da gravidade do quadro. Nos casos por infestação de ácaros é prescrita a ivermectina oral (pode ser prescrita pela via oral, tópica ou ambas).

- Tratamentos tecnológicos avançados
Em casos mais persistentes, recursos como luz pulsada, terapias termomecânicas e terapia com jato de plasma podem ser necessárias de forma isolada ou combinada para alcançar um alívio mais duradouro dos sintomas.

Na Olharis, você encontra cuidado especializado para o diagnótico e tratamento das blefarites.
Tratamos a blefarite com uma abordagem integrada e atualizada, que vai desde a identificação das causas até o controle da inflamação através do tratamento clínico ou do uso de tecnologias inovadoras, além do acompanhamento contínuo.
Se você sente desconforto nos olhos, acorda com os cílios grudados, tem sintomas de olho seco ou já teve vários episódios de hordéolos ou calázios, você pode ter blefarite.
Um diagnóstico preciso e um tratamento individualizado fazem toda a diferença. Estamos aqui para te ajudar.

Dra. Fernanda Fernandes
Diretora médica e responsável técnica da Olharis. Oftalmologista especialista em córnea e doenças externas.