O que é?
A miopia é um tipo de grau caracterizado pela dificuldade de enxergar objetos à distância, enquanto a visão de perto geralmente permanece nítida. Isso ocorre porque a imagem se forma antes da retina, devido ao alongamento excessivo do globo ocular ou a alterações na curvatura da córnea ou do cristalino.

A miopia costuma se manifestar durante a infância ou adolescência e tende a progredir até o início da vida adulta. O risco do avanço da miopia não é apenas a dependência dos óculos, mas principalmente, o aumento excessivo do comprimento do olho, que pode levar a complicações oftalmológicas graves, que ameaçam a visão, na vida adulta. Entre essas complicações estão: descolamento de retina, degeneração macular miópica, glaucoma e catarata precoce. Quanto maior o grau, maior o risco de desenvolver essas alterações.
Sintomas
O principal sintoma da miopia é a dificuldade para enxergar de longe. Muitas crianças não percebem que há algo errado com a visão, mas podem apresentar sinais que levantam suspeita de miopia, como:
- Apertar os olhos para tentar ver melhor à distância
- Aproximar objetos do rosto para conseguir enxergar com nitidez
- Queda do rendimento escolar pela dificuldade em enxergar o quadro
- Desinteresse em atividades esportivas por não enxergar bem de longe

Caso esses sinais sejam observados, é fundamental procurar um oftalmologista o mais breve possível. Porém, pelo fato de muitas crianças não apresentarem sintomas, a avaliação de rotina deve ser realizada, mesmo sem sintomas.
Prevalência
A miopia tem se tornado cada vez mais comum em todo o mundo. Atualmente, cerca de 30% da população mundial apresenta a condição. Projeções indicam que, até 2050, esse número pode chegar a 50% da população global — aproximadamente 5 bilhões de pessoas.

Regiões como o Leste e Sudeste Asiático, incluindo Coreia do Sul, China, Japão, Cingapura e Taiwan, já apresentam prevalências entre 80% e 90% entre os jovens.
Causas
Diversos fatores contribuem para o aumento da miopia. A predisposição genética é um deles: filhos de pais míopes têm maior probabilidade de desenvolver a condição.

Entretanto, fatores ambientais têm papel fundamental, especialmente:
- Excesso de atividades de visão próxima (uso prolongado de telas, leitura por tempo contínuo sem pausas)
- Baixa exposição à luz natural

Estudos mostram que crianças que passam menos tempo ao ar livre durante o dia têm maior risco de desenvolver miopia.
Exames e Avaliações no Controle da Miopia
O manejo da miopia vai muito além de “trocar o grau dos óculos”. Envolve um acompanhamento detalhado, com exames específicos que ajudam a entender a progressão e os fatores de risco de cada paciente. Abaixo, conheça os principais exames utilizados na consulta especializada:
1. Refração sob cicloplegia
A refração mede o grau dos olhos e deve ser realizada paralisando a musculatura dos olhos através de colírios no consultório (cicloplegia).
É o ponto de partida para avaliar a evolução da miopia. Feito o diagnóstico de miopia, é necessário saber se esta miopia está relacionada ao tamanho aumentado dos olhos. Essa avaliação é importante, pois os tratamentos para desacelerar a progressão da miopia só estão indicados para miopia axial (relacionada ao tamanho aumentado dos olhos).

2. Biometria óptica (medida do tamanho do olho usando a luz)
Esse exame mede o tamanho do olho, da córnea até a retina.
A miopia está associada ao alongamento do globo ocular, e a biometria é o exame mais sensível para monitorar a progressão da miopia.

- Topografia de córnea
A topografia mapeia a curvatura da córnea em alta resolução.
É essencial para:
- Avaliar se a córnea está saudável.
- Verificar a regularidade da superfície para adaptação de lentes especiais (como ortoceratologia).
- Excluir doenças como ceratocone, que podem coexistir com miopia.

Com base em todos esses dados, avaliamos qual estratégia é mais indicada para o manejo da progressão da miopia.
Tratamentos
Atualmente, existem estratégias eficazes que visam desacelerar a progressão da miopia, reduzindo o grau final e os riscos de comprometimento da visão. As principais opções terapêuticas incluem:
- Colírios de atropina em baixas concentrações (manipulados)
- Lentes de contato gelatinosas descartáveis com desenhos especiais (corrige a visão e trata ao mesmo tempo)
- Óculos com design óptico terapêutico (corrige o grau e trata ao mesmo tempo)
- Ortoceratologia (lente de contato noturna que remodela temporariamente a córnea)
- Intervenções com luz vermelha, violeta ou branca (em estudo; ainda não disponíveis no Brasil)
- Colírios de atropina em baixas concentrações (manipulados)
A atropina, em concentrações extremamente baixas (como 0,01%, 0,025% ou 0,05%), é um dos tratamentos mais estudados para o controle da miopia.

- Como funciona: regula o crescimento do globo ocular, desacelerando a progressão da miopia.
- Uso: uma gota no(s) olho(s) à noite.
- Efeitos colaterais: em concentrações muito baixas, os efeitos colaterais como sensibilidade à luz e dificuldade para leitura de perto são mínimos.
- Vantagens: tratamento simples, seguro, menor custo e indicado até para crianças à partir de 5 anos.
- Desvantagens: o colírio precisa ser manipulado em farmácia de confiança, exige disciplina e organização para pingar todos os dias e não deixar faltar.
- Lentes de contato gelatinosas específicas para controle da miopia
São lentes gelatinosas de uso diário, com um design óptico especial que proporciona visão nítida e tratamento ao mesmo tempo — estratégia que ajuda a “frear” o estímulo de crescimento do olho.

- Como funciona: causa um desfoque periférico que ajuda a regular o crescimento do globo ocular.
- Uso: Mínimo de 10h/dia 6 dias por semana.
- Indicação: crianças e adolescentes com boa adaptação a lentes de contato.
- Vantagem: combina correção visual com efeito terapêutico.
- Desvantagens: exige uso diário, exige boa higiene e não corrige astigmatismo
- Óculos com design óptico terapêutico
Esses óculos usam lentes especiais e desaceleram a velocidade de progressão da miopia, ao mesmo tempo que corrige o grau. Atualmente no Brasil (2025), existem 5 lentes disponíveis no mercado para o manejo da miopia em crianças e adolescentes.

- Como funciona: mantêm a imagem central nítida, mas com estímulos periféricos que evitam o alongamento axial do olho.
- Indicação: crianças a partir de 5 anos de idade
- Vantagem: são usados como óculos comuns, com boa aceitação.
- Desvantagens: a eficácia depende do tempo de uso contínuo durante o dia (ideal: >12 horas diárias), alto custo
- Ortoceratologia (lente de contato noturna que remodela a córnea)
A ortoceratologia, também chamada de Orto-K, é uma lente rígida personalizada, usada durante a noite. Durante o sono, ela remodela temporariamente a curvatura da córnea, permitindo visão nítida ao longo do dia sem precisar de óculos ou lentes durante o dia.

- Como funciona: além da correção visual, a forma como a córnea é moldada promove um perfil óptico que controla a progressão da miopia.
- Indicação: crianças a partir de 8 anos, adolescentes, adultos.
- Vantagem: liberdade visual durante o dia; excelente controle de progressão da miopia.
- Desvantagem: exige adaptação, disciplina e cuidados com a higiene
- Intervenções com luz vermelha (em estudo)
Terapias com luz de baixa intensidade, como a luz vermelha de baixa frequência (low-level red light therapy), têm mostrado resultados promissores em estudos recentes, especialmente na Ásia.

- Como funciona: acredita-se que essas luzes estimulem vias celulares que regulam o crescimento ocular
- Status atual: ainda não disponíveis no Brasil, sendo consideradas terapias experimentais, embora com bons resultados preliminares.
- Potencial futuro: podem se tornar parte de terapias combinadas para manejo da miopia.
- Exposição à luz violeta (em estudo)
Estudos em crianças míopes de 6 a 12 anos de idade usando óculos que transmitiam luz violeta tiveram uma taxa supressiva para alongamento axial de 21,4% por dois anos.
Os resultados sugerem que essa abordagem pode ser uma estratégia viável para o manejo da miopia, particularmente em idades mais jovens, mas ainda está em estudo.
Prevenção
Independente do tipo de tratamento escolhido para o manejo da progressão da miopia, devemos sempre associar o aumento das atividades ao ar livre sob a luz natural e a redução do tempo de atividades muito próximas aos olhos. Segundo a WSOPS- Sociedade Mundial de Oftalmologia Pediátrica e Estrabismo, a exposição ao ar livre de 2 horas por dia é eficaz em retardar o surgimento de miopia em crianças não míopes.
A luz natural aumenta a produção de dopamina pelas células retinianas. A dopamina liberada atua no processo de emetropização, controlando a velocidade de crescimento do olhos.

Como escolher o melhor tratamento?
Não existe uma única solução ideal para todos. A escolha depende de vários fatores, como:
- Idade da criança
- Grau atual e velocidade de progressão
- Estilo de vida
- Perfil comportamental e preferências da família
- Acesso e viabilidade financeira
A escolha do tratamento ideal exige avaliação individualizada, acompanhamento periódico e decisões baseadas em evidências científicas. A identificação precoce e a adoção de medidas preventivas são fundamentais para preservar a saúde ocular e evitar complicações futuras.
Como deve ser o acompanhamento oftalmológico de crianças míopes ou com risco de desenvolver a miopia?
As crianças precisam ser acompanhadas semestralmente por um oftalmologista especializado em manejo da miopia. A cada 6 meses, será realizado o exame oftalmológico completo, incluindo a refração sob cicloplegia e a medida do comprimento axial do olho (medida do tamanho do olho) para avaliarmos a progressão do grau e do comprimento ocular.
A cada visita é reforçada a importância das atividades ao ar livre sob a luz natural e a redução do tempo gasto em atividades muito próximas aos olhos.
Gráfico que avalia o crescimento do comprimento axial (em milímetros) em relação à idade e ao sexo (https://doi.org/10.1111/opo.12676). Avalia o risco da criança se tornar míope e alta míope (acima de 5 graus de miopia).

Mas afinal, por que tratar a miopia na infância?
Porque a miopia costuma piorar com o crescimento
Durante a infância e adolescência, o olho ainda está em desenvolvimento. Se não houver um controle adequado, o grau tende a aumentar ano após ano — o que chamamos de progressão da miopia.
Quanto maior o grau, maior o risco de problemas mais sérios no futuro, como:
- Descolamento de retina
- Degenerações na mácula (área central da visão)
- Glaucoma e catarata precoce
Porque pode prejudicar o aprendizado e a autoestima
Crianças míopes, principalmente quando ainda não foram diagnosticadas ou estão com a correção inadequada, podem:
- Ter dificuldade de ver a frente na escola
- Demonstrar desinteresse nas aulas
- Sentir dor de cabeça ou fadiga visual
- Ficar mais introspectivas por insegurança visual
- Ser vítimas de bullying por parte de outras crianças

Tratar a miopia de forma correta e preventiva melhora não só a visão, mas também o bem-estar geral e o desempenho escolar, com impacto positivo sobre a qualidade de vida das crianças.
Porque o tempo é fator-chave
O controle da miopia deve começar o quanto antes. Quando o tratamento é iniciado cedo — com colírios, lentes terapêuticas ou mudanças de estilo de vida — conseguimos reduzir significativamente a velocidade de progressão e preservar a saúde ocular a longo prazo. Sempre há o que ser feito independente da idade da criança.
Cuidar da miopia na infância é cuidar do futuro da visão.
Se seu filho ou filha já usa óculos, ou se você percebe sinais de dificuldade para enxergar de longe, vale a pena marcar uma avaliação com um oftalmologista especializado em Manejo da miopia.
Na Olharis, unimos ciência, tecnologia e cuidado para acompanhar o crescimento visual de forma segura, acolhedora e personalizada.
RECOMENDAÇÕES SOBRE O USO DE TELAS NA INFÂNCIA
- Até 2 anos: evitar exposição, mesmo passiva
- 2 a 5 anos: até 1 hora/dia, sempre com supervisão
- 6 a 10 anos: até 2horas/dia, com supervisão
- 11 a 18 anos: até 3horas/dia, em áreas comuns da casa
Fonte: Academia Americana de Pediatria (AAP) e Organização Mundial de Saúde (OMS) e Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP)
OUTRAS RECOMENDAÇÕES:
- Supervisão:
O tempo de tela deve ser sempre acompanhado por um adulto que possa orientar sobre o uso e o conteúdo.
- Evitar telas no quarto:
Não ter telas (televisão, tablets, etc.) no quarto das crianças e adolescentes para facilitar um sono de qualidade.
- Desconectar antes de dormir:
Desconectar das telas uma ou duas horas antes de dormir, para que a criança possa se preparar para a noite de sono.
- Conteúdo adequado:
Escolher conteúdos de qualidade e que sejam adequados à faixa etária da criança.
- Evitar o uso de telas durante as refeições:
As refeições devem ser um momento para interações sociais e para prestar atenção ao que se come.
- Priorizar atividades alternativas:
Incentivar a leitura, a prática de esportes, a interação social e outras atividades que não envolvam telas.
RISCOS DO USO EXCESSIVO DE TELAS:
O uso excessivo de telas pode ter diversos impactos negativos, como:
- Problemas de desenvolvimento: Pode afetar o desenvolvimento cognitivo, linguístico e social.
- Problemas de saúde: Pode contribuir para o sedentarismo, obesidade, problemas de visão e insônia.
- Problemas de comportamento: Pode levar a problemas de atenção, hiperatividade e irritabilidade.
- Problemas sociais: Pode dificultar a interação social e o desenvolvimento de habilidades sociais.
Importância da educação:
É fundamental que pais, educadores e a sociedade em geral se conscientizem sobre os riscos do uso excessivo de telas e que promovam práticas saudáveis de uso.

Dra. Fernanda Fernandes
Diretora médica e responsável técnica da Olharis. Oftalmologista especialista em córnea e doenças externas.